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sábado, 5 de novembro de 2011

O Cinema pede passagem, por Eber Ramos.

(Dica de Filme)
         Há quem goste de ver filmes em salas de exibição, por causa da atmosfera criada pelos efeitos sonoros e visuais que envolvem o público e mergulham o indivíduo num mundo de sensações sensoriais indescritíveis. Para esses, o Cinema é, antes de mais nada, uma experiência prazerosamente coletiva. Por outro lado, há os que preferem o recanto doméstico e se deliciam com as possibilidades de ver e rever indefinidamente seus filmes preferidos, num verdadeiro mergulho cinematográfico em detalhes que muitas vezes permanecem “em segredo” quando são exibidos publicamente. Para esses, Cinema é uma experiência de “degustação” visual, de intimidade com o roteiro, os personagens e as imagens, que passam a ser incorporados à vida do cinéfilo, cujo prazer maior, sem dúvida, é o de compartilhar suas impressões como espectador.
         Este espaço tratará especificamente da segunda experiência, não desprezando necessariamente a primeira. Na verdade, a intenção é abordar despretensiosa e amadoristicamente alguns filmes que, acredito, podem servir como sugestão para uma experiência singular e divertida. Aliás, quantos filmes tivemos o prazer (ou desprazer) de assistir por indicação de amigos ou conhecidos? Pois é, nada como comprovarmos com o nosso próprio senso crítico aquilo que outras pessoas experimentaram, seja positiva ou negativamente. A responsabilidade pelos comentários sempre recairá sobre o comentarista. Por isso, meu objetivo é transformar minhas impressões sobre os filmes a que assisto em um bate-papo cinematográfico, despido de preconceitos e aberto às novidades.
       
Jake Gyllenhaal e Natalie Portman
Tobey Maguire e Jake Gyllenhaal
Comecemos pelo último filme que vi em DVD, Entre Irmãos (Brothers, 2009, EUA). Trata-se de um drama psicológico familiar. Os filmes americanos abordam com muita propriedade as consequências que uma guerra pode provocar em seus cidadãos e, consequentemente, em suas famílias, a exemplo da Guerra do Vietnam, cujas cicatrizes foram descritas em Nascido em 4 de Julho (com atuação excepcional de Tom Cruise, que deveria ter ganhado o Oscar). Já Entre irmãos concentra suas energias num confronto mais recente, o do Afeganistão. Com um elenco primoroso, em sintonia e excelentes atuações (principalmente o triângulo amoroso formado Tobey Maguire, Natalie Portman e Jake Gyllenhaal), o filme conta a história de um combatente (Tobey) que, ao retornar do Afeganistão, depois de ter sido capturado, torturado e obrigado a matar um companheiro, se vê atormentado com desconfianças e alucinações envolvendo a esposa (Natalie) e o irmão problemático (Jake). A tensão que paira sobre a família é a espinha dorsal da trama, já que envolve as filhas do casal e seus avós paternos, que procuram acalmar os ânimos de todos.
       O que mais se destaca na película são as atuações de todos, pois conseguem transmitir a devastação psicológica de uma família americana provocada por um patriotismo desmedido, fruto do medo e da prepotência do Governo, cujo preço se paga atualmente com as despesas provocadas pelas inúmeras guerras bancadas pelos americanos, acenando com um retrato de crise financeira e de redimensionamento de sua atuação política, social e econômica.
        A pequena atriz que interpreta a filha mais velha do casal nos emociona de tal forma que não conseguimos acreditar que, com sua pouca experiência, consiga transmitir sentimentos tão complicados como o desamor e o temor pelo pai, afeição pelo tio e serenidade diante do sofrimento mudo da mãe, que, ao longo da história, oscila sensações de extrema tristeza ao saber da suposta morte do marido, e, em seguida, de insuportável alegria, quando do seu reaparecimento. O irmão problemático consegue se redimir por meio da solidariedade com a cunhada e do carinho com as sobrinhas, e o suplício interior do combatente nos demonstra o quanto temos que lidar com o peso de nossa consciência.
        Enfim, Entre Irmãos contém ingredientes bastante diferentes e surpreendentes para torná-lo um filme com capacidade de ser revisto com paciência e emoção, tanto em relação à performance do elenco e ao roteiro bem elaborado, quanto pela direção eficiente. Sobretudo por um motivo que torna uma história inesquecível: a sensação de termos aprendido algo novo sobre nós mesmos e sobre o mundo em que vivemos.

                                                                                                   Eber Ramos